terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Papa e homem: como a renúncia de Bento XVI saiu nos jornais

Cá estou eu para falar das primeiras páginas sobre a renúncia do Papa Bento XVI, em pleno carnaval. Lembrei-me da época da visita de João Paulo II, em outubro de 1997, quando uma frase fazia sucesso: "Se Deus é brasileiro, o Papa é carioca". Mentira. Ou só se fosse o João Paulo II. Porque se Bento XVI fosse do Rio de Janeiro, ia esperar a quarta-feira de cinzas para renunciar. Brincadeiras à parte, não deve ser fácil abrir mão de um cargo que, segundo a fé católica, é de condução divina. Tanto não é simples que poucos papas renunciaram ao logo dos quase dois mil anos de catolicismo. E mais: é um anúncio que, apesar de ter sido feito na manhã de segunda-feira, tem total força para ser a manchete da terça feira de carnaval, ocupando a página toda ou boa parte da capa.


Mas vamos às páginas!

Destaco abaixo uma série de páginas que se utilizaram de imagens do Papa de costas ou dando adeus. Não gostei porque é a clássica imagem usada quando morre alguém. Inclusive quando do falecimento do Papa anterior. Veja só.

- Morte de João Paulo II - 03/04/2005


- Renúncia do Papa Bento XVI

Gostei de "Lição de humildade". Reconhecer não ser capaz de exercer um cargo é coisa rara em qualquer âmbito. Faz pensar





"Gazeta do Povo" e "Estado de Minas" utilizaram a mesma imagem. Eu gostei da menção às sandálias de São Pedro. Vou falar disso mais abaixo.



Sei como deve ser difícil achar manchete que não repita a notícia exaustivamente divulgada no dia anterior e ainda explore com inteligência o fato já conhecido. "Diário Catarinense" reforçou a surpresa do adeus precoce, mas o "Correio Braziliense" tentou fazer diferente e isso é louvável.


Apesar de demissão admitir o significado de renúncia voluntária, o "se demite" dá a impressão de que o papado é um emprego. Há verbos mais adequados.

Das capas com o papa de costas, essa do "Journal & Courier", de Indiana (EUA), é uma das minhas preferidas. Tem tudo a ver com o comunicado de renúncia do Papa, de que ele muito rezou até tomar a decisão. É uma imagem muito simbólica. 



A imagem do papa durante a reunião do anúncio também foi bastante utilizada, em diversos ângulos, e principalmente pelos grandes jornais.





De maneira semelhante ao "Correio Braziliense", a "Folha" também tentou trazer algo novo em sua primeira página. O paulista puxou na manchete uma notícia além do fato da renúncia


Vale dizer que "O Globo" é um dos jornais que mais teria a falar do carnaval no Brasil e destacou 2/3 de sua capa para tratar da renúncia do Papa. É porque a notícia tem essa dimensão, essa importância. Foi muito acertada, na minha opinião, essa hierarquização da informação. Apenas não gostei da opção pela palavra "trono". Acho que lembra rei, e Papa é outro título. Além disso, Bento XVI permanecerá até o dia 28, portanto, a cadeira não está vazia. Não ainda.


Já "O Dia" deu mais espaço ao carnaval do que ao Papa, no entanto, logo de cara, respondeu a duas perguntas que poderiam ser feitas pelos cariocas: vai ter jornada? Que papa virá?


Em notícias desse porte, tem muita empatia usar uma frase como manchete.


"Sai de cena" é muito batido e muito genérico.


Gostei dessa fumaça, como incenso, algo muito simbólico na Igreja Católica. A fumaça simboliza as preces subindo até Deus.

Da série que dá a notícia, mas não perde a piada. O carioca "Extra" estampa uma manchete séria e deixa a brincadeira para a foto de carnaval. Uma maneira de misturar os dois assuntos. 


O "Meia hora" também juntou os assuntos renúncia do Papa e carnaval. Optou por uma maneira que não deixa de falar sobre o assunto e, ao mesmo tempo, respeita a linha editorial do jornal.


O Newseum escolheu a página abaixo como uma das dez melhores do dia. Eu entendo. O jornal "Diário da Região" fez diferente entre as capas de todo o mundo. Ninguém mais fez essa arrumação gráfica com essas informações. 


A brega


E as minhas preferidas:


Fiquei emocionada com o "Libération". É a imagem da saída mas pelos pés. Quem sai com os próprios pés escolheu sair. 
Os pés também têm muito simbolismo para os católicos. A bíblia diz que são belos os pés dos mensageiros que anunciam a paz; João Batista disse que não era digno de desabotoar as sandálias de Jesus; Cristo teve os pés lavados e beijados por uma prostituta e lavou ele mesmo os pés dos discípulos como sinal de que estava a serviço. Além disso, as sandálias de Pedro, recolhidas após sua morte, simbolizavam o quanto aquele apóstolo percorreu. O caminhar de Bento XVI como Papa termina, mas começa um novo.


Não sei alemão, mas segundo o Google Tradutor, significa "Graças a Deus". Essa frase, mais os sapatos, são muito poéticos. Como se Bento XVI agradecesse e saísse, deixando o posto, no caso, as "sandálias de Pedro", para seu sucessor. Bonito.